Janeiro 15UTC 2010
Passarela com curvas
Artigo sobre a importância do Fashion Weekend Plus Size, gentilmente escrito por William Douglas, juiz federal, professor e escritor
Mayara Russi e Bianca Raya – as duas tops integram o casting do FWPS
Fico me perguntando como deveriam sofrer as mulheres magrinhas naquela época em que os pintores consideravam musas apenas as mulheres mais portentosas. É… os tempos mudam! Veio o tempo das modelos altas e magras, e até mesmo o das macérrimas, anoréxicas, literalmente morrendo de fome. Mas o pior da modernidade nem foi isso, mas o photoshop: esse recurso tecnológico que leva a todos os não “photoshopizados” a sensação de feiura, débito plástico e imperfeição física. Quantas pessoas não se sentiram feias na hora da nudez só porque a nudez, ou semi-nudez, da mídia não é sincera? Quantas não são as modelos e atrizes que, mesmo nuas, ou semi-nuas, estão a vestir na pele inteira o photoshop?
Devia haver uma lei proibindo o photoshop, talvez, para redimir a autoestima dos homens e mulheres que não andam nas capas das revistas.
Quantos meninos e meninas andam fazendo bobagens, ou operações, para se colocarem no formato adequado, como se a raça humana fosse assim: peças de encaixar, como ovos padronizados que precisam ficar no tamanho exato da caixa de isopor?
Num mundo tão complicado, onde a tirania da beleza esquálida e dos padrões não humanos que alguns estilistas engendraram faz tanto mal, é uma alegria ver que nem tudo está perdido. Falo do Fashion Weekend Plus Size, onde desfilarão moças lindas, livres – elas e nós – da ditadura da anorexia.
Abaixo todas as ditaduras que pretendem impor um padrão de beleza: são bonitas as altas e as baixinhas, são bonitas as claras, as negras, são bonitos todos os tipos de cabelo, todas as formas de mulher. Quem escolhe que só é bonita uma mulher alta, macérrima não entende nada de diversidade e, aposto, muito menos ainda de mulher.
Entre as maldades feitas com quem foge ao padrão de beleza propugnado há a falta de cuidado com o desenho das roupas. O problema é que aqueles que desenham as peças para pessoas plus size não parecem tão esmerados, e seguem linhas como se todas tivessem que se vestir quase com uniformes.
Além de ser um mercado numeroso e em crescimento – razões comerciais e capitalistas suficientes para levar essas pessoas a sério – creio que aprender a desenhar com estilo e graça para todas é algo que refere-se à civilidade e ao respeito à dignidade da pessoa humana.
Erra quem pensa que “direitos humanos”, “democracia”, “respeito” etc são termos meramente jurídicos e que só interessam em alguns cenários ou espaços sociais. Respeitar a diversidade e ver a beleza que há em cada uma das formas e cores de cada ser humano é um valor que se tem ou não dentro da gente. Se ele existir, vai valer em tudo, desde fazer roupas até aprovar um candidato numa seleção de emprego; se não existir, vamos continuar a discriminar pessoas tanto nas passarelas quanto nas ruas, empregos e empresas.
Por tudo, então, o Fashion Weekend Plus Size é o mais bonito dos desfiles. Bonito porque mostra gente bonita, e as magras também o são, e bonito porque mostra para todo mundo que a beleza não tem regra, peso ou altura. Assim como o feio também não.
*William Douglas é juiz federal, professor e escritor.
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