12 janeiro 2012

Lingerie abre nova porta de trabalho para mulheres sauditas

Lingerie abre nova porta de trabalho para mulheres sauditas


Sauditas em loja de lingerie em Jeddah (Foto: AFP)
Para as freguesas da loja de lingerie La Senza, em um dos shopping-centers mais resplandecentes da capital saudita Riad, as novas equipes de vendedoras formadas apenas por mulheres nesta semana encerraram anos de constrangimento.
Agora as clientes não precisarão mais sofrer o embaraço de assistentes homens tentando descobrir qual é a medida de suas roupas de baixo olhando através de suas vestes volumosas e comprovadamente islâmicas.
Para as mulheres por trás do balcão, o decreto do rei Abdullah no ano passado de tornar as lojas de lingerie um domínio exclusivamente feminino também marca uma mudança social mais profunda: um passo em direção ao emprego feminino.
"Eu estou contente e me sinto independente. Não preciso mais que ninguém me apoie financeiramente, além disso, o próprio trabalho me fortalece", disse Amani, uma jovem usando um véu sobre o rosto que atendia freguesas em La Senza.
As mulheres correspondem apenas a sete por cento dos sauditas empregados em empresas privadas, mas formam quase metade dos sauditas em busca de trabalho, segundo dados do governo de 2009.
Neste conservador reino islâmico, onde a segregação por gênero é rigidamente reforçada, emprego remunerado era visto como prerrogativa masculina. O fato de que mesmo as lojas de lingerie eram compostas de funcionários homens até esta semana era visto por muitas mulheres sauditas como um absurdo.
Ao denunciar todas as forças de emprego feminino como uma porta aberta à interação imoral entre os sexos, os clérigos e seus executores, a polícia religiosa, terminaram neste caso por obrigar as mulheres a revelarem detalhes íntimos de seu corpo para homens desconhecidos.
"É muito confortável agora. A loja está repleta de mulheres e dá para se movimentar livremente e perguntar sobre qualquer coisa sem se sentir constrangida", disse Heba, uma freguesa da La Senza.
Mudança social
Em um país onde as mulheres são proibidas de dirigir e precisam de permissão de um parente homem para trabalhar, viajar e mesmo para se submeter a certos tipos de cirurgia, o emprego feminino é outro campo de batalha entre tradicionalistas e os que querem mudança.
Para as mulheres por trás do balcão, decreto marca mudança social mais profunda (Foto: AFP)
Embora a família governante al-Saud mantenha uma relação próxima com os clérigos influentes e conservadores wahhabitas, o governo vem pressionando por reformas que deem mais direitos às mulheres.
"Noventa e nove por cento da sociedade à minha volta aceita a situação", disse Amani. "Minha família me apoia muito. Eles me dizem para fazer o que eu quiser porque é a minha vida", disse ela, ao mesmo tempo em que se recusou a dar o sobrenome para evitar constrangimento à família.
O establishment clerical, no entanto, continua determinado. O Grande Mufti, a autoridade religiosa mais importante do reino, disse em um sermão recente em Riad que permitir que mulheres trabalhem em lojas é um crime que viola as leis islâmicas.

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